Encontros "BRASÍLIA, CIDADE CRIATIVA"

Encontros "BRASÍLIA, CIDADE CRIATIVA"
*** Economia da cultura no Distrito Federal ***
Ciclo de debates e Saraus para aproximar pessoas que se beneficiam com o desenvolvimento cultural de centros urbanos e cidades - produtores culturais, gestores, artistas, realizadores de eventos, turismólogos, urbanistas, empreendedores, investidores em projetos e intelectuais que pesquisam cidades criativas.
Mediação: João Reis - produtor cultural, pesquisador, músico e mestre em Psicologia.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

IMATERIAL, I-MATERIAL, MATERIAL - eventos e seus patrimônios

Numa referência distante do conceito de patrimônio imaterial da humanidade, o título deste post foca três dimensões culturais importantes: 
  • o que o homem produz de intangível - imaterial;
  • a base material necessária para essa produção - produtos em si;
  • e a mediação da tecnologia nas relações humanas -  i-material.
FESTIVAL DE TEATRO CENA CONTEMPORÂNEA ESTEVE POR AQUI, PARA ALÉM DO ESPAÇO



Alguns teóricos conseguem provar que estamos na Era da Experiência, em que eventos oferecem alternativas à Era Digital - uma era do isolamento humano mediado por algumas tecnologias de ponta. Nessa perspectiva, os eventos são uma força importantíssima para promoção da cultural e para tornar tangíveis e concretas a convivência entre as pessoas.


Relacionar tudo isso ao conceito de cidade criativa é o objetivo aqui, já que a cultura precisa de espaço para existir e da iniciativa dos gestores/produtores com seus eventos que permitam a expressão das pessoas.


Brasília, com sua peculiar característica de ter sido planejada estrategicamente para abrigar grandes cabeças pensantes, a mil metros de altitude, congregou diversas culturas, sem reproduzir as condições para que certas festas, rituais, encontros, etc ocorressem. Os pensadores, legisladores e executores das políticas públicas também têm raízes culturais que não precisam ser mediadas pelas constantes viagens que sempre caracterizaram os moradores da nossa capital. Digo isso porque a saudade da "terra natal" sempre levou os candangos para os aeroportos e rodoviária.


Com alguns eventos, desbravando espaços culturais e praças públicas, a estrutura física e social de Brasília cinquentenária permite uma nova cultura. Alguns espaços não podem ser modificados, seja pelo tombamento, seja pela relação entre custos e benefícios - que podem não ser compensadores. Ainda mais porque temos diversos espaços que podem ser aproveitados como espaços culturais, embora não tenhamos demanda suficiente para torná-los plenamente vivos de cultura.


Então vejamos os eventos que deram mais vida à cultura brasiliente, nesse início de setembro. Quatro grandes eventos ocorridos mostram o potencial que têm, a partir do modo como ocupam espaços, para produzir arte e integrar pessoas:


1. O Festival Internacional de Teatro (Cena Contemporânea);
2. A I Virada Cultural;
3. A 3a. Mostra Zezito de Circo; e 
 4. O desfile de 7 de setembro (com seus shows de encerramento e as referências às festas como o congado, o carnaval, maracatus e tantos que geram a saudade dos migrantes que materializam Brasília.
DESFILE DO PODERIO BÉLICO RELEMBRA EVENTOS DA CULTURA QUE GESTOU OS QUE MORAM EM BRASÍLIA





Desses eventos tão diferentes entre si, o que têm em comum é o uso da praça pública - a Esplanada - como continente da expressão máxima dos seres humanos que têm Brasília como sua morada e lar, e não apenas um local de trabalho.


Sabemos que indígenas de diversas tribos expõem, em rituais artísticos com danças e diversas expressões, a força que têm para ocasiões de guerra e paz. Assim tem sido o desfile de 7 de setembro, e não será o foco da discussão aqui.


Mas de modo diverso, os outros três eventos desbravam possibilidades.
FESTIVAL DE CIRCO ARMA-SE NO ENCONTRO DOS EIXOS - VIVO COMO SEMPRE


A beleza grandiosa do circo armado exatamente na praça das fontes que une o Conic ao tombado Touring Club foi surreal e perfeita, dando um sentido novo e encantador àquela região: cores e vida em espaços que dormem e se abandonam à noite. De uma forma muito criativa, os realizadores fizeram uma ponte entre o Teatro Dulcina e o picadeiro montado no que parece ser o exato ponto central do País, onde aqueles eixos são cruzados. O Circo dá outro sentido ao circo.


Já a Virada e o Cena permitem chamar atenção a outros pontos.
A I Virada Cultural, por ser a primeira, não pode ser comparada com o Cena Contemporânea - um evento jovem de 11 edições, que já está estruturado como organização gestora eficiente. Mas o ponto central em que quero chegar diz respeito ao uso da Esplanada para os shows da Virada e do Cena.
A inadequação do encontro dos dois eventos em algumas noites - vazando som de um para o outro - foi compensada pela riqueza de opções para o público espectador. Ainda mais pelo fato de terem focos estéticos distintos na oferta de shows. 


A região da Esplanada perto do cruzamento dos Eixos tem o acesso facilitado pela proximidade da rodoviária e da estação do metrô. E tem a acústica, a noite, a poeira e a ventania como os desafios para edições futuras.
O "cantinho" entre a rampa de entrada do Museu da República e o restaurante abrigou palcos para shows e teatro experimental  do Cena Contemporânea. Foi um espaço que pedia aconchego acústico e iluminação. Mesmo assim conseguiu oferecer um festival de uma grandeza ímpar, com atrações escolhidas por uma curadoria absolutamente impecável, visionária e madura. Inclusive com o show de Antônio Nóbrega trazendo canções de mestiçagem e com referências ao descobrimento do Brasil e sua renovação.

EVENTO REENCENADO NA ESPLANADA BRASILIENSE


Como conciliar a necessidade de materializar os eventos, capitalizá-los e atender às necessidades materiais das pessoas para quem eles foram realizados? É uma construção que o presente já tem capacidade de resolver.

 Um evento deve ser como a água: adaptar-se ao que dispõe como margem. A cidade é um desafio que o evento deve enfrentar e reinventar. Seu espaço sonoro, seu espaço olfativo, seu espaço visual, seu espaço higiênico, seu espaço ambiental e seu útero -  que fecundará o futuro - devem ser alvos estéticos.

Criar espaços íntimos para eventos é o que tem feito os espaços culturais “formais”. Mas fazer cultura dos (e nos) espaços informais das ruas/não-ruas, das avenidas e praças  ou em casos especiais/espaciais as esplanadas é a questão resolvida pelos eventos culturais.

E se alguém quiser responder para além dos eventos que se propõem a ser artísticos, faço eco para questões fundamentais:
Deixemos que todos durmam para que a verdadeira arte floresça?
Ou deixemos todos acordados para que verdadeira arte não adormeça?





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